ABNT NBR’s restringem a inovação

Para todos os profissionais que utilizam as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), uma notícia muito especial foi anunciada recentemente. A partir de agora, todos os usuários dessas normas terão acesso a todas as normas de forma gratuita e ilimitada. Isso significa que não será mais necessário comprar as normas, pois elas estarão disponíveis a qualquer momento, sem restrição de tempo.

Engenheiros, Arquitetos e demais profissionais do Ambiente Construtivo frequentemente se alçam nas diretrizes preconizadas nas Normas Técnicas (ABNT NBR) ao desenvolver suas atividades. As NBRs permeiam grande parte das atividades de construção civil como elaboração de desenhos técnicos, cálculos de dimensionamento, testes laboratoriais, execução de obra e desempenho de edificações.

As NBRs existem com o intuito de padronizar procedimentos, balizar qualidade e segurança, garantir competitividade, atuar na prevenção de acidentes e regulamentar materiais e métodos. Não existe obrigatoriedade no cumprimento das NBRs, contudo, por serem referências bastante confiáveis, são utilizadas em diversos processos da área de construção civil.

O profissional que opta por não seguir as NBRs abre mão também do respaldo legal/judicial que a mesma proporciona, chamando (ainda mais) pra si a responsabilidade. Veja bem, a responsabilidade sempre é do profissional, mas seguir a NBR dá um forte amparo argumentativo caso algo de errado aconteça no longo do Projeto.

Vejo a oferta gratuita a consulta às NBRs com bons olhos, assim como telas organizadas em um portal de fácil acesso. Aliás, a existência de Normas Técnicas é uma prática não só do Brasil e não só em tempos recentes. Com certeza a existência delas ajuda o aluno na elaboração de conteúdo nas universidades, guia o recém formado e protege o profissional e, mais ainda, a sociedade. Mas nem tudo é um mar de rosas.

Como vimos anteriormente, as Normas técnicas padronizam e garantem competitividade. As propostas de valor, a diferenciação de produtos e serviços, e o formato de precificação por muitas vezes acaba sendo “empurrado” para uma igualdade, uma comoditização. As Normas coíbem inovação. Justo em um setor econômico tão suscetível a implementação de novos materiais e a processos inovadores, as Normas simplesmente ficam para trás, não conseguem acompanhar e acabam retardando o desenvolvimento – por vezes até impedindo-o completamente, tornando ideias (produtos e serviços) tecnicamente viáveis em fracassos econômicos devido à falta de adoção em favorecimento de ideias normatizadas.

Em 2018, durante o tempo em que trabalhei no projeto de Governança na gigante britânica Network Rail, pude adentrar em situações similares as discutidas aqui e usar a oportunidade para pensar e oferecer alternativas de contorno. Seguem algumas ideias:

– Incentivando o investimento: As agências reguladoras podem esclarecer riscos para incentivar investimentos. Isso pode ajudar as empresas a se sentirem mais seguras ao investir em tecnologias inovadoras.

– Simplificando a regulação: Ao simplificar a regulação, as agências podem reduzir a burocracia que muitas vezes desacelera a adoção de novas tecnologias.

– Estabelecendo padrões: Definir padrões que promovam as melhores práticas da indústria pode ajudar a orientar o desenvolvimento de novas tecnologias de uma maneira que seja benéfica para todos.

– Incentivando a inovação: As agências reguladoras também podem incentivar a inovação, encorajando as empresas a desenvolverem novas tecnologias.

– Adotando Novas Abordagens: A inovação regulatória requer a experimentação de novas abordagens, como as “caixas de areia” regulatórias. Estas fornecem um espaço seguro para as empresas testarem novas tecnologias sob a supervisão de um regulador.

– Promovendo uma perspectiva de experiência do cliente e regulamentos baseados em risco: Isso pode melhorar o relacionamento entre empresas e reguladores, facilitando a adoção de novas tecnologias pelas empresas.

– Envolvendo os stakeholders da indústria: Os líderes empresariais podem envolver suas equipes e indústrias para ajudar a reunir os stakeholders certos para criar o nível e as formas corretas de regulação que impulsionarão a adoção e a inovação.

Essas alternativas devem ser implementadas em conjunto e mesmo assim provavelmente não sanarão o problema. A intenção aqui é caminhar para uma melhora e isso sim é bem possível de se alcançar. Claro, estar-se-ia mexendo com grandes corporações que atuam em carteis protecionistas ainda maiores. Mas esse é um papo pra um próximo texto. Me acompanhe para não perder.

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Pedro Basso

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